Cafeicultores paranaenses estão impulsionando a produção com auxílio de boas práticas, extensão rural e cooperação. O secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara, acompanhado de uma equipe do Sistema Estadual de Agricultura, visitou na terça-feira (16) propriedades que servem como referência no Norte Pioneiro. O objetivo do governo estadual é replicar o modelo em outras regiões.
Com ações inovadoras, os produtores buscam melhorar a renda familiar e, ao mesmo tempo, preservar o café como uma tradição importante da história da agricultura paranaense. O Norte Pioneiro concentra a maior parte da cafeicultura e, ainda que o volume no estado não seja expressivo comparado a outras grandes culturas, a qualidade da produção faz a diferença, com diversos cafés especiais premiados em concursos.
A fórmula para esse desempenho inclui mecanização, diversificação e sucessão familiar. O café do Norte Pioneiro também já tem selo de Indicação Geográfica concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e iniciativas importantes como o grupo Mulheres do Café.
O município de Carlópolis lidera a produção de café no Paraná e é um exemplo desse cenário. Enquanto o estado, de modo geral, tem perdido área de café nos últimos, a cidade faz o caminho inverso e tem conseguido crescer nessa cultura. São aproximadamente 5 mil hectares que geraram uma produção de 9,16 mil toneladas e um Valor Bruto da Produção (VBP) de R$ 165,2 milhões em 2021, segundo os dados mais recentes do Departamento de Economia Rural (Deral). Cerca de 600 produtores trabalham nessa atividade na cidade.
Durante a visita às propriedades, Ortigara parabenizou os cafeicultores, técnicos e lideranças e listou algumas políticas públicas que podem ajudar a continuar o trabalho. “Nós reconhecemos o esforço de quem cresceu pela busca de fazer diferente, e esperamos que outras cidades copiem essa capacidade de organização. Esse modelo de união, e com a ideia de ter um café de qualidade, especial, é muito importante”, disse. “Nosso time está definindo uma estratégia para nos somar a esse esforço, nas políticas de incentivo ao cultivo, à mecanização, ao uso da água, para aumentar a produtividade, baixar custos e baixar riscos”, completou.
DIVERSIFICAÇÃO – O coordenador estadual de Cafeicultura do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná Iapar-Emater (IDR-Paraná), Otávio da Luz, que trabalha há mais de 30 anos em Carlópolis, acompanhou de perto a história do café. Ele explica que o cuidado com o solo e a diversificação são fatores primordiais para melhorar a produtividade, especialmente com a fruticultura e olericultura. A extensão rural tem papel relevante no incentivo a essas práticas. “A diversificação de culturas dá uma estabilidade financeira muito boa para o produtor. A fruticultura e a olericultura agregam bastante valor na propriedade”, diz. De acordo com ele, com planejamento, a área de café na cidade poderia ser ampliada para 10 mil hectares nos próximos anos.
PANORAMA – O café está presente em 187 municípios do estado, e segundo o IDR-Paraná, e em mais de 50 municípios a economia depende da cafeicultura. São aproximadamente 6 mil famílias nessa atividade em todo o estado e cerca de 80% das propriedades são de agricultura familiar.
No Paraná, embora a produção tenha reduzido 13% de 2020 para 2021, atingindo 51 mil toneladas, o VBP cresceu 41% em termos reais e chegou a R$ 911 milhões, segundo o Deral. Por área, essa cultura rende pelo menos cinco vezes mais do que a soja. No entanto, a área destinada ao plantio dessa cultura tem reduzido ao longo dos últimos anos.
O estado já foi um grande produtor de café. Chegou a ter 1,8 milhão de hectares nos anos 1960, até que adversidades climáticas severas, como a geada negra de 1975, fizeram a produção despencar. Naquele ano, o estado tinha 942 mil hectares plantados. No ano passado, aproximadamente 30 mil hectares foram destinados ao café no Paraná.
SUCESSÃO FAMILIAR – Para entender o que levou Carlópolis ao título de principal produtor de café do Paraná, é preciso conhecer também a história das famílias, que têm conseguido manter o interesse das novas gerações pela cultura.
A propriedade da família do Sítio São Manoel, com 21 mil pés de café, já está na quarta geração de produtores. Se, antigamente, o trabalho seguia um sistema de cultivo mais difícil e penoso, hoje é um exemplo do que vem dando certo na cidade: diversificação e sucessão familiar. “A sucessão é automática desde que a propriedade dê dinheiro suficiente para ter uma vida boa na família. Se não tiver recursos, o jovem vai buscar outras alternativas na cidade”, completa o coordenador estadual de Cafeicultura do IDR-Paraná. Eduardo da Silva é bisneto de cafeicultores. “É um orgulho muito grande”, diz a avó, Anita. Ele está estudando agronomia e pretende se especializar em café. “A gente espera que o café cresça muito mais”, diz Eduardo.
Também em Carlópolis, o produtor Emanuel Liuti, de 23 anos, seguiu a mesma vocação do pai e do avô. Em 2006, a família cultivava meio hectare. Hoje, são 16 hectares de café, e também está aumentando a área de fruticultura. “A vantagem é que trabalhando com a fruta você consegue pagar os custos de família, de maquinário, manutenção, da lavoura e ainda um pouco da lavoura do café”, explica.
Liuti conta que a boa condução dos pais na educação dele e dos dois irmãos, dando abertura para que participassem das escolhas na propriedade, fez a diferença para mantê-los no campo. “Desde quando a gente tinha por volta de 15 anos, éramos envolvidos nos trabalhos. Então crescemos com olhar de comunidade, de trabalhar em família. A partir dessa oportunidade, sabendo que seríamos o futuro disso, a gente se sentia bem trabalhando junto”.
MECANIZAÇÃO – Na lavoura da família de Emanuel, 90% do trabalho é mecanizado. “Começamos com as máquinas a partir de 2014 e de lá para cá fomos melhorando, trabalhando com novo método de cultivo que é o espaçamento adequado para a colheita mecanizada, reduzindo o custo de mão-de-obra”. Outros equipamentos são utilizados em colaboração com propriedades vizinhas. A parceria entre agricultores, segundo o coordenador de Cafeicultura do IDR-Paraná, é uma marca de Carlópolis. “Esse é um modelo que pensamos para outros municípios, em que se possa criar núcleos de cafeicultores para trabalhar em conjunto para conseguir comprar máquinas, por exemplo”, explica.
APOIO – Políticas públicas também são fundamentais para estruturar as propriedades e colaborar com os produtores. Além de pesquisa e extensão rural, programas de estado como Banco do Agricultor Paranaense; o Coopera Paraná, que garante recursos para pequenas associações e cooperativas; e o Compra Direta Paraná, são exemplos de ações efetivas, segundo Ortigara. “Também teremos uma iniciativa para incentivar a irrigação”.
FORMAÇÃO – Outro cafeicultor que manteve a propriedade da família é Marcelo Teixeira, do Sítio Teixeira. Ele é da terceira geração de cafeicultores, e os filhos já estão interessados no setor. A propriedade gera de 2,5 mil a 3 mil sacas de café beneficiado por ano e já teve seu produto comercializado para países como Austrália e Holanda. “Eu assumi a propriedade em 2011, e desde então houve essa transformação daquela cafeicultura tradicional para essa cafeicultura moderna, mecanizada”, conta. Além do incentivo da extensão rural do Estado, ele destaca a importância de cursos de formação para que os produtores possam se aperfeiçoar, como os do Senar-PR. “O consumidor cada vez mais quer qualidade, então a gente precisa caprichar no que faz”.
COOPERAÇÃO – O cooperativismo foi outro fator que colaborou para o fortalecimento dessa cultura. Trabalhando em parceria com o IDR-Paraná, a Capal passou a atuar nessa área por volta de 2004. Hoje, com 350 cafeicultores cooperados – sendo 218 de Carlópolis -, a entidade planeja potencializar a comercialização e ampliar os investimentos. “A aptidão da região é muito forte para o café. Há grande colaboração entre as famílias e um dos papéis da cooperativa é promover justamente isso”, diz o diretor comercial, Eliel Magalhães Leandro.
PLANO – A intensificação das ações do Estado junto a produtores de café teve um marco também na semana passada, durante a Expoingá. Em Mandaguari, na sede da Bela Esperança, um grupo de produtores e lideranças regionais conversou com o secretário Norberto Ortigara e com a equipe do Sistema Estadual de Agricultura para apresentar um plano de ação. A iniciativa envolve outros quatro municípios além de Mandaguari: Apucarana, Cambira, Jandaia do Sul e Marialva.
O grupo listou dez ações necessárias, que incluem mais acesso a mudas, equipamentos e capacitação. Entre as metas estão aumentar a área de café na região em 200 hectares por ano; renovar os cafezais deficitários, substituindo por lavouras mais produtivas e adequadas ao manejo mecanizado; aumentar a produtividade e produzir mais cafés especiais. Mandaguari também busca o selo de Indicação Geográfica para o café produzido na região.
No final do ano passado, produtores retomaram a Associação dos Produtores de Café de Mandaguari (Cafeman), hoje com 40 associados, e estudam meios de conquistar o reconhecimento para agregar mais valor ao produto. “Com isso, a gente busca valorizar nosso produto, e não deixar que os produtores abandonem o café por outra atividade. Não queremos necessariamente volume, mas qualidade”, explica o presidente da Associação, Fernando Roberto Rosseto.
O diretor-presidente do IDR-Paraná, Natalino Avance de Souza, falou sobre a possibilidade de ampliar a assistência técnica na cafeicultura. “Para nós é um bom desafio poder discutir ações técnicas de uma cultura que faz parte da origem do estado. É um modelo do qual queremos ser parceiros”.